[LA EXPERIENCIA / LA PEDAGOGÍA]

Día 4 – 2 de mayo 2014 / Thaise Nardim. Da necessidade da humildade

Por que pensar que um artista deve ser humilde? Essa foi uma questão que surgiu nas discussões do coletivo hoje. Foi colocado que há muitas problemáticas impostas por valores cristãos que acabam reverberando no campo da arte.

Mas será a humildade um valor exclusivamente cristão?

Hoje pela manhã conversava com o residente Pablo Conejo sobre as diferenças e semelhanças entre as culturas brasileira e argentina. Ele me disse que esteve em um seminário em que se discutia esse tema, e que nesse seminário foi dito que, enquanto na Argentina existe uma certa sobrevalorização do dissenso (isto é: o dissenso é tão valorizado como postura que, mesmo quando não tem motivações muito claras ou nobres tende a ser festejado), no Brasil há sempre que se ter um cuidado extremo para se discordar de algo, não se pode ser direto e claro ao se opor a uma ideia, ao custo de ser tomado como mal-intencionado.

Acredito que todo brasileiro já esteve numa situação desse tipo e irá concordar com o que foi dito, como eu concordei. Em nosso país, o dissenso em grande parte das vezes é entendido como desrespeito, mesmo quando colocado de modo tranquilo e construtivo. Poucas pessoas estão dispostas ou ainda preparadas para ouvir críticas e trabalhar com elas, seja incorporando o que de bom pode trazer, como simplesmente entendendo-as como o posicionamento do outro. Do mesmo modo, as opiniões apenas diversas da maioria também parecem-me que, no Brasil, tendem a gerar alterações de ânimos, em geral em sentido negativo. Em geral, creio que não sabemos bem trabalhar o dissenso, a alteridade. Veja-se o quanto somos racistas e bairristas 0 isso sem falar nas muitas religiões que praticam o preconceito massivo, ao invés de pregarem a compreensão e compaixão, como seria esperado de uma orientação espiritual.

Muito bem. Pessoalmente, entendo que a humildade não seja exatamente o que um brasileiro “médio”, isto é, um brasileiro que age como esse que relatei acima, tende a compreender como tal. Não acredito, a título de exemplo, que uma pessoa precise esconder, num debate público, o que sabe, o que domina. Pelo contrário: acredito que todos precisamos saber o que sabemos, assim como o que não sabemos. Para mim, ter ciência de seus sucessos e de suas capacidades não está ligado à falta de humildade, mas sim à autocrítica e ao exercício constante de autoquestionamento, coisas sobre as quais venho falando em meus textos para este blog.

Ter consciência de suas limitações, de suas falências e de suas incapacidades – meu modo de definir humildade – não está ligado a ser “bonzinho”, a ser complacente, a ser “pedagógico” (no mau sentido) ou a ser submisso. Não tem absolutamente nada a ver com o “politicamente correto” brasileiro – pelo contrário, entendo que o politicamente correto tem lá sua carga de prepotência, na medida em que o sujeito há que esforçar-se constantemente para alcançar o que é correto “politicamente”, que não é o SEU correto.

Entretanto, entendo que ao artista é, sim, preciso que exercite a humildade, assim como a qualquer outro ser humano. Isso está ligado ao meu modo de entender todo o mundo, a meu modo de entender a vida e todas as áreas do conhecimento. Para mim, não existirá real progresso na aquisição de conhecimento se o sujeito não se supõe falível.

Entendo que os artistas – assim como os profissionais das ciências humanas e das artes de modo geral – trabalham para construir melhor compreensão de si mesmos, de NÓS mesmos, e de nossos tempos. Nesse sentido, uma humildade primordial diz respeito à compreensão de que toda conclusão à qual se pode chegar já está, desde seu surgimento, fora do tempo, atrasada.

Uma outra “natureza” de humildade diz respeito exatamente àquilo que nos faz desejar trabalhar em coletivo. Como disse no texto publicado ontem, o desejo da construção coletiva pressupõe, em meu entendimento, a compreensão de que o coletivo pensa melhor que o indivíduo. E como posso propor-me a trabalhar em uma construção grupal se não exercito o juízo de que posso ter estado equivocado até esse momento sobre determinada convicção, ou de que minhas concepções são provisórias, ou ainda de que há lacunas em minhas construções intelectuais/ideológicas? Ou seja: em meu entendimento, para aqueles artistas que se propõem a trabalhar com a produção coletiva de conhecimento ou de arte, a humildade – assim como a empatia – parecem-me ainda mais necessárias do que parecem aos artistas em geral.

Acredito que os artistas precisariam ser humildes porque acredito que todos nós, seres humanos vivendo nesta sociedade, precisamos da humildade mais que precisamos de conteúdos ou materiais. Muitas vezes, para além – ou melhor, antes mesmo – de metodologias ou procedimentos qualificados, qualidades de humanidade podem fazer artes e pensamentos melhores pelo simples fato de que possibilitam-nos aproveitar o que de melhor têm aqueles que estão à nossa volta. E – volto a insistir – com isso não estou pedindo aos artistas e pensadores que não acreditem em seus trabalhos. Mas sim, e apenas, que desconfiem de tudo, que desconfiem de si mesmos (e, claro, que desconfiem também dos outros, que desconfiem de tudo) sempre que possível. Do mesmo modo, espero também que reconheçam seus valores, que saibam o que sabem e o que fazem bem e que se orgulhem disso ao deparar-se com a boa execução de uma obra, que se gabem mesmo – pois o que é bom deve ser visto e reconhecido.

Pois bem. Acredito que já me estendi demais para começar a discutir o caráter cristão (ou não cristão) dessa humildade que defendo. Acredito, porém, que o que disse acima deixa claro que não há crenças ou dogmas cristãos envolvidos. =)

Céditos da imagem: “Smoking bench”, do artista dinamarquês Jeppe Hein. http://www.jeppehein.net/
este post fue publicado el May 3, 2014 at 2:44 pm. bajo la categoría Uncategorized y con los tags (etiquetas) , , , , . Agendalo con este permalink. sigue los comentarios a este post a traves de RSS.

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