Día 1 / Mezzo lost in the traducción (que é uma traição)
Certamente será um clichê iniciar minhas contribuições para este blog com um comentário sobre minha dificuldade de comunicação neste meu primeiro dia em Córdoba e na Argentina. Entretanto, como não tratar desse assunto, quando justamente o que venho buscar neste encontro são as trocas intelectuais, coisa da qual o verbo é o veículo privilegiado? Assumo o risco do julgamento de meu leitor, ciente (na carne) que estou de que foi esse o leitmotiv de meu Día 1.
Caminhando junto a esse clichê e à realidade que ele veicula, entretanto, está o seu revés: a universalidade das linguagens não-verbais. No extremo das circunstâncias, todos sabemos que podemos contar com gestos, movimentos, sons desarticulados e – no caso do público que aqui encontramos – muito boa vontade. A comunicação pela linguagem pouco estruturada do corpo, porém, padece com interferências que a comunicação verbal entre falantes de um mesmo idioma conhece menos, variando substancialmente de acordo com o humor e a disposição física do corpofalante.
Eu – no-hispanohablante e sim-corpofalante – cheguei ao hostel trazendo comigo o enorme cansaço que acumulei nos dois dias de viagem que travei de Palmas (Tocantins, Brasil) até aqui. Isso, somado à minha timidez e quietude naturais, me fazem concluir o dia sabendo pouco ou quase nada sobre meus parceiros de jornada. (Observação: não é fácil ser uma moça tímida interessada em construção coletiva de conhecimento, em arte relacional, colaborativa, dialógica…). Tenho uma grande expectativa pela apresentação de seus portfólios amanhã, assim como a expectativa de que a noite bem dormida na agradável temperatura de Córdoba me faça mais disposta. Ao mesmo tempo, saber que estou entre outras pessoas que também venceram longas distâncias para estar aqui é algo que me faz não ter dúvidas de que será uma experiência engrandecedora. Sair do conforto de sua cultura e de seu cotidiano e estar em outro país sem o objetivo do turismo é um tipo de enfrentamento que demanda um mínimo de coragem e desejo. Coragem e desejo: dois ingredientes essenciais tanto para quem faz arte quanto para quem constrói a educação.
Sigamos. Amanhã há mais encontros dentro dos quais perder-se.