No texto de ontem falei rapidamente sobre o meu desejo – e a minha dificuldade, ocasionada pela timidez – de trabalhar pela construção coletiva de conhecimento. Estou certa de que isso é o que a grande maioria de nós veio buscar aqui, para além de (in)formação particular – coisa que podemos sempre conquistar junto aos livros, no conforto de escritórios e de nossas agendas cotidianas.
Hoje, gostaria de refletir um pouco sobre essa necessidade e aquilo que a determina. Por que queremos produzir conhecimento coletivamente? Quais os limites dessa desse procedimento? De quais ferramentas precisamos estar munidos para que as dinâmicas de produção coletiva sejam efetivas?
Não tenho respostas para essa pergunta, mas vou arriscar aqui algumas hipóteses, mais com a intenção de problematizar do que fechar ou finalizar as questões.
Entendo que comecei a desejar produzir conhecimento coletivamente a partir da percepção de que – para citar Curatoria Forense – nenhum de nós é tão inteligente como todos nós juntos. O debate coletivo pode rapidamente interpor às ideias questões que sozinhos levaríamos muito a notar, pelo simples fato de que temos distintos modos de ouvir, de pensar, de perceber. As diferentes experiências de vida, em nosso caso as diferentes procedências, instauram um processo dialético ágil, em que teses logo encontram suas antíteses e, assim, nossas sínteses tendem a estar mais distantes de nosso ego, da particularidade, da ilusão de identidade.
É evidente que, assim como uma produção intelectual individual reflete o universo de seu autor, também a produção coletiva não é universal e absoluta, e delimita-se pelo universo que aquele coletivo em particular constitui. Trata-se de um grupo de artistas? Então temos as condicionantes que esse fato nos impõe. Isso não é ruim (talvez não seja bom, não estou certa), mas é apenas um fato e, como tal, deve ser sempre levado em consideração, deve ser incorporado ao processo – não podemos deixa-lo de lado, ao risco de que nosso produto venha carregado de prepotência.
O processo também será determinado pelos instrumentos de que dispomos quando nos lançamos a ele, o que sabemos sobre o tema, o que já lemos e o que experienciamos. Se temos algum conhecimento ou alguma experiência sobre o tema, poderemos caminhar e poderemos avançar. Entretanto, se nosso conhecimento sobre o tema em questão é limitado, corremos o risco de mantermo-nos patinando continuamente em um mesmo lugar, e de chegar a lugares que outros já chegaram e por vezes até os superaram. Entendo que essa experiência possa ser engrandecedora em si mesma – isto é, não avançar em relação ao que já se conhece no campo de conhecimento em questão pode ser uma experiência formativa de grande valor para aqueles que nela imergem. Entretanto, para que o seja, novamente será preciso manter-se ciente dessa condição. Além disso, não será uma experiência de contribuição à cena que se debate, ou seja, identificadas nossas reais condições de debate, devemos considerar que o que estamos dizendo pode já ter sido dito.
Por fim, parece-me que, como todo processo de construção de conhecimento, o encontro de ideias coletivo demanda um exercício permanente de autoquestionamento, autocrítica e, especialmente, humildade – individual e coletiva. Com isso, tendo a entender que, para sermos bons pensadores, será necessário buscar o aperfeiçoamento pessoal constante, praticando a autocrítica e a humildade em nossa vida cotidiana.
Ou não.
Créditos da imagem: Tapete afegão de jacquard tecido em tear “Chisel”, do artista Matt W. Moore. http://mwmgraphics.com/